Será que sou gay?
“Oi Lidiane. Tomei coragem e escrevi para você. Você não faz ideia quantas vezes que sentei em frente ao computador e na hora H acabei recuando. Nunca falei com ninguém sobre essa minha neura. Até hoje acho que não sou normal. Lidi, antes de falar sobre meu dilema, gostaria de me apresentar. Sou um jovem empresário, tenho 39 anos, fui criado por uma família bem conservadora, acho que por isso me tornei um homem reservado e cheio de noias. Nunca tive a liberdade para falar sobre minhas intimidades com meus pais. E por receio e vergonha também nunca me abri com meus amigos. Lidi, sou pais de duas meninas lindas, acho que sou um homem de boa aparência, pelo menos, sou bastante paquerado, apesar da minha timidez. Hoje evolui bastante, mas já fui bem mais inseguro. Fui casado por 10 anos e há dois anos estou separado. Atualmente tenho alguém. Na verdade faz cerca de três meses que estou me relacionando com uma mulher muito interessante, que além de bonita é madura, inteligente e bem resolvida.
Ainda não estamos namorando, mas tudo está caminhando para isso. Nos vemos, pelo menos, uma vez na semana e nos falamos sempre que possível. Sim, porque ela, como eu, tem bastante compromissos e isso toma bastante tempo. Eu a compreendo, apóio e a admiro. Acho ela uma mulher perfeita. Não estou falando apenas de beleza, porque isso é indiscutível, estou falando dela como pessoa. É uma mulher muito humana e muito dedicada a tudo que se compromete em fazer. Como minha mulher também é perfeita. Ops! Me empolguei. Ainda não é minha mulher. Estamos apenas no começo de uma madura relação. E, o que não quero neste momento é errar como errei no meu primeiro casamento. Sabe Lidi, não sei se é porque somos imaturos quando jovenzinhos, que acabamos cometendo erros grosseiros. Hoje procuro ser um homem mais doce, mais amável, mais presente e menos egoísta.
Procuro valorizar os pequenos gestos de demonstração de amor e carinho. Hoje conheço e compreendo mais as mulheres. Me sinto mais sensível porque hoje acredito que uma relação só vai durar se ela for regada todos os dias. É Lidiane, os anos me tornaram um homem mais romântico, mais cavalheiro, mais gentil. Demonstro o que sinto e não tenho vergonha em admitir que amo, que choro, que sofro por amor. Nossa Lidiane, você não faz ideia o quanto sofri com a minha separação. Hoje estou curado e me dando a oportunidade de ser feliz de novo. Sim, porque acredito que ninguém vive sem um amor de verdade. E eu, admito, estou gostando da minha loirinha.
Mas Lidi, o que ainda tira meu sono é que entre quatro paredes tenho uma tara que fez com que minha primeira mulher me deixasse. Ela me chamava de gay porque eu queria fazer sexo anal. Eu namorei muito pouco Lidi, comecei a namorar com ela muito cedo. Sabe, me criei no interior ‘comendo’ cabrita no barranco. Verdade! Não tenho vergonha de admitir. Quando jovenzinho, praticamente, só tive ela como referência de mulher. Mas não sei Lidi, quando estou com uma mulher esse meu extinto animal fala mais alto e desejo muito sentir prazer dessa maneira. Algumas vezes saí com garotas de programa e elas em momento algum se opuseram, mas, tenho medo de avançar o sinal com a minha nova namorada. Será que ela também vai achar que sou gay?
Poxa Lidi, até hoje tenho esse trauma. Me sinto envergonhado por ter esse tipo de desejo, por sentir prazer dessa forma. Você acha que sou gay? Por favor Lidi, responde meu e-mail.” Um abraço. Henrique – Centro
Oi Henrique. Jamais! Pra admitir tudo que você me falou só um cabra macho mesmo. E, de mais a mais, se você realmente fosse gay, acho que eu e qualquer outra pessoa deveria te respeitar. Afinal de contas, você não vai ser menos do que ninguém só porque gosta de uma pessoa do mesmo sexo. Não é mesmo?! As pessoas têm que parar de discriminar o diferente. De julgar, condenar. As pessoas são muito cruéis. Na grande maioria das vezes julgam sem conhecer, pelo simples e bel prazer de gostar do sofrimento alheio. Sim, por que vocês não acham que essas pessoas sofrem? Vocês acham que elas gostariam de ser apontadas como ETs? Vocês acham que essas pessoas são assim só porque querem ser do contra? Gente, as pessoas deveriam se colocar mais no lugar das outras pessoas, só assim iriam sentir na pele quanto é ruim ser maltratado, muitas vezes ser humilhados porque amam verdadeiramente uma pessoa do mesmo sexo.
Amigo, eu já fui muito criticada ao longo dessa vida, não pela minha opção sexual, mas, por ser assim como sou, alegre, expansiva, diferente. Não foi fácil, mas, fui firme! Não mudei meu jeito de ser porque as pessoas se incomodavam por eu aparecer demais. Se eu tivesse mudado, me anulado, eles teriam vencido e eu fracassado.
Amigo, hoje criei uma defesa e não é qualquer crítica que me abala, que me tira do prumo. Hoje tenho força, muita força e a minha bandeira é defender os mais fracos. Não suporto o sofrimento aplicado a quem não pode se defender, seja animal, criança, idoso, negro, gordo, homossexual, seja quem for. Por isso amigo, pode ter certeza que você tem uma amiga do seu lado, estou aqui para te ouvir e te dar o meu abraço.
Mas Henrique, você não é anormal porque gosta de sexo anal. Olha só que coincidência. Você não é a única pessoa que tem ‘n’ pontos de interrogação na cabeça com relação ao sexo anal. Muitas pessoas pra lá de estudadas também não sabem muito sobre essa forma de prazer. Vou te confessar que sou uma das suas, que também até ontem não tinha muita informação sobre esse assunto. Conversando com minhas amigas elas também sabem muito pouco sobre isso. Eu também achava que cara que gostava de sexo anal, gostava de transar com homem. Esse conceito eu tinha até pouco tempo atrás, até o dia que questionei meu ginecologista. Sim, aproveitando que falo sobre Amor&Sexo com meus leitores e vendo que como eu, muitos tinham dúvidas com relação ao sexo anal, aproveitei uma consulta e esclareci todas as minhas e as dúvidas de todo mundo.
Henrique, o sexo anal tem passe livre dentro de uma relação sexual como o sexo oral e o sexo tradicional. O meu médico listou apenas algumas informações importantes como, por exemplo, usar camisinha para a prática do sexo anal. SIM, porque no homem pode dar infecção nas vias urinárias;
- outro ponto importante: se praticou sexo anal e depois resolvou voltar a praticar o sexo tradicional, deve trocar a camisinha para não transmitir bactérias para a mulher. Certo?
- E tem mais: o médico recomenda o uso de um lubrificante para não machucar a mulher e, claro, o homem também não pode ser bruto. Compreendeu Henrique? Tu viu, não tem nenhum segredo. O que falta é INFORMAÇÃO. O sexo anal pode ser prazeroso tanto para o homem, quanto para a mulher. Fora que é um fetiche da grande maioria dos homens. Fique tranqüilo, você não é o único! E você não é gay só porque gosta de sexo anal. OK?!
Agora amigo, o que recomendo a você é que converse com sua parceira. O diálogo é a porta de entrada para uma relação madura e saudável. Diga o que gosta e o que não gosta entre quatro paredes, só assim sua parceira vai poder contribuir com seu prazer e, claro, dê ouvidos também ao que ela tem a falar. Só assim vocês irão se completar na cama.
Henrique, tem mais uma coisinha, não há nada melhor do que se tocar para se conhecer, só assim saberemos onde está o botãozinho que nos dá prazer. Como vou querer que um homem me dê prazer se eu não conheço o meu corpo, se eu não sei o que realmente me satisfaz em cima de uma cama. Não é mesmo? Pense nisso!
Com carinho,
Lidiane Cattani Rabello - jornalista