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Palavra Andante


TAMBORES DE FEVEREIRO

Fevereiro avança e os tambores rufam noite adentro.

È o carnaval que se aproxima. São os ensaios das escolas de samba. O esquenta dos blocos. As charangas, cordões e rodinhas de pagode s/a, a mil pelo Bra... você sabe.

Se estivéssemos em Oslo ou Katmandu provavelmente não haveria barulho. Ou o ruído seria outro. Talvez o vento frio bailando com a neve. Mas estamos aqui, nesta potência sul-americana de sons. Os tambores retumbam como se a cidade tivesse um motor enorme. Pistões sacudindo, correias virando e o povo acelerando. Vamos decolar.

Um país inteiro batucando. Uns mais outros menos. Muitos querendo dormir. Mas milhares e milhares ocupando o espaço com esse exército de sons. Por que fazemos isso?

Outros povos meditam em silêncio. Há etnias que empilham pedras ou esculpem carrancas. Há quem entoe mantras ou se ajoelhe coletivamente para orar. Em nossa dita civilização são tantos os que buscam os shopping centers...

Mas, neste momento, é como se a principal atividade do país fosse a batucada. Quem sabe ela seja uma forma de dar um coração mais humano para a noite? Talvez sua pulsação de tambores sirva para que haja uma comunicação entre homens e o que pré-existe nesta esfera. Quem sabe somos barulhentos porque queremos uma resposta, queremos ser ouvidos.

Pelo cosmos, pelo bairro, por nós mesmos.

Rodrigo Espinosa Cabral


Rodrigo Espinosa Cabral

Rodrigo Espinosa Cabral, brasileiro, vegetariano, gremista. Um pedaço de poeira cósmica que, às vezes, escreve. Palavra Andante, um passeio pelo mundo das letras.

rodrigoec@gmail.com