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Palavra Andante


A INVASÃO DOS MOSQUITOS

Não sei se os sapos dormem durante o dia. Mas à noite, aqui onde estou, eles estão bem acordados e falantes.

Agora é meia-noite e cinqüenta e quatro e eles seguem seu falatório infinito. Não consigo traduzir tudo o que dizem. Sou como o Galvão Bueno tentando ouvir a comunicação entre os boxes e piloto na Fórmula 1. Com o agravante que, a essa hora da madrugada, não tenho a parceria de um Luciano Burti para ajudar.

Então vou transcrever aqui o que entendi de seu intrincado coaxar:

Amigos sapos e grilos (sim eles meio que se entendem, assim como brasileiros e argentinos) a vida está fantástica aqui nesta cidade brasileira. O verão é quente pra dedéu (bem difícil entender “dedéu” no idioma dos sapos) e a onda de calor nos causa alucinações reais. Nunca vi tantos mosquitos em minha vida, senhores e senhoras!

(neste momento os grilos e os outros sapos fizeram uma barulheira descompassada, sacudindo o pingue-pongue da hora correta de saber ouvir e falar). Continuei traduzindo o que dizia o sapo:

São milhares e milhares de mosquitos nesta cidade. Viva! E este ano estão gordos e gostosos com seu recheio líquido vermelho, sabor humano!

(seguiu-se nova anarquia da sapaiada em apoio ao palestrante e perdi o fio da meada, sendo impossível continuar a tradução).

Mas fui obrigado a concordar com o batráquio. Neste verão a FAP (Força Aérea dos Pernilongos) atacou com uma frota imensa e aguda. Lá em casa esquecemos de renovar o estoque de pastilhas de veneno e foi preciso usar outras táticas para superar o problema.

Considerei enxugar uma garrafa de vinho para me anestesiar e me livrar dos microvampiros. Mas amanhã tenho que trabalhar...

Pensei em cavar uma trincheira no meio da sala e me esconder do inimigo, mas a dona síndica iria me fuzilar. Quis me cobrir com o edredom, mas o calor era infernal.

Desisti e fui tomar banho para fugir do calor e dos ataques aéreos. Liguei o computador e escrevi esta história.No momento estou escrevendo um e-mail para os sapos, convidando-os a morar aqui em casa para devorarem os pernilas. Mas antes tenho que arrumar um tampão para os ouvidos.

O jeito é esperar amanhecer. São 6:05. Falta pouco.

Rodrigo Espinosa Cabral


Rodrigo Espinosa Cabral

Rodrigo Espinosa Cabral, brasileiro, vegetariano, gremista. Um pedaço de poeira cósmica que, às vezes, escreve. Palavra Andante, um passeio pelo mundo das letras.

rodrigoec@gmail.com