600/h
Intervalo na escola. Sala dos professores. Ela fala num tom discreto para a amiga:
— Dizem que agora tem um homem na cidade que paga 600 reais por... você sabe —
movimenta a mão para frente e para trás, duas vezes com os dedos juntinhos.
Sua colega sorri abertamente, distribuindo a conversa para todos na sala:
— Juraaaa?
— Que foi? — pergunta curiosa a professora de Artes.
— Diz que tem um cara aí na cidade que paga 600 reais por... encontro.
— Sério? Será que ele aceita uma fofinha como eu?
— Gente, onde estamos? — questiona a profe de religião, ajeitando os óculos.
— Ah, mas por 600 até eu, brinca o professor de Educação Física.
Eles riem e mexem um pouco mais nas possibilidades.
— Mas quanto tempo dura? Se for muito não compensa...
— Parece que dura uma hora. 40 minutos conversando e 20... “no parquinho”.
— Haja conversa — dispara o professor de Física.
— Bá, muita mulher vai gostar tanto desses 40 minutos de papo que são capazes de
devolver 300 pro homem. — considera a Psicopedagoga.
— E como ele é, hein? Deve ser bem esquisito. Um raio de feio. — projeta a mestra de
Matemática.
— Uns dizem que é loiro e musculoso. Outros dizem que é grisalho e sedutor...
— Ai, eu fazia por 100. — simplifica a professora de Biologia.
Mais risos. Toca o sinal. Eles voltam à realidade de suas classes, a 6 reais por hora:
muitas vezes 40 minutos de conversa, 20 de brincadeiras.
Rodrigo Espinosa Cabral