Meeeee...
Em nível quântico,nos diz a ciência, estamos todos interligados. O ar sai de você e entra nela. Sai dela e entra nele. Teus átomos se encostam com os da tela, os elétrons giram, as supercordas se esticam. E temos um ancestral comum: milhões de anos atrás estava todo mundo na mesma festinha de aniversário.
Do outro lado da mente, a religião nos diz que somos todos filhos de um mesmo Criador. Nem uma grama nasce sem que Alá queira ou saiba, profere o Corão.
Bom, em meio a Verdades inexoráveis uma criatura como eu só pode falar:
— Meeeee...
Vivemos em uma região muito religiosa e somos um povo que se importa com os fatos. Nos importamos tanto que, por vezes, falamos até de coisas que não são da nossa conta.
Chega uma amiga e conta algo. A outra diz:
— Meeeee...
— E daí ela pegou e... (tititi... tititi...)
— Meeeee...
— Imagine, na frente de todo mundo...
— Meeeee...
Ou seja: somos científicos e religiosos. Ao extremo. Científicos pela curiosidade, pela valorização dos fatos. Por querer saber.
Religiosos porque, ao soltarmos a interjeição “Meeeee”, nos aproximamos do som das ovelhas: “be-e-e-e-e”. Esse balido torna o rebanho mais religioso, pois o “Meeeee” é uma forma reduzida da expressão “Meu Deus”. Quem fala “Meeeee” contorna, em parte, o risco de descumprir o mandamento “Não usar o Santo Nome de Deus em vão”.
Estamos interligados. Na religião e na ciência. Na vida real, virtual, física e metafísica.
— Meeeeeee...
Rodrigo Espinosa Cabral