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Palavra Andante


Meeeee...

Em nível quântico,nos diz a ciência, estamos todos interligados. O ar sai de você e entra nela. Sai dela e entra nele. Teus átomos se encostam com os da tela, os elétrons giram, as supercordas se esticam. E temos um ancestral comum: milhões de anos atrás estava todo mundo na mesma festinha de aniversário.

Do outro lado da mente, a religião nos diz que somos todos filhos de um mesmo Criador. Nem uma grama nasce sem que Alá queira ou saiba, profere o Corão.

Bom, em meio a Verdades inexoráveis uma criatura como eu só pode falar:

— Meeeee...

Vivemos em uma região muito religiosa e somos um povo que se importa com os fatos. Nos importamos tanto que, por vezes, falamos até de coisas que não são da nossa conta.

Chega uma amiga e conta algo. A outra diz:

— Meeeee...

— E daí ela pegou e... (tititi... tititi...)

— Meeeee...

— Imagine, na frente de todo mundo...

— Meeeee...

Ou seja: somos científicos e religiosos. Ao extremo. Científicos pela curiosidade, pela valorização dos fatos. Por querer saber.

Religiosos porque, ao soltarmos a interjeição “Meeeee”, nos aproximamos do som das ovelhas: “be-e-e-e-e”. Esse balido torna o rebanho mais religioso, pois o “Meeeee” é uma forma reduzida da expressão “Meu Deus”. Quem fala “Meeeee” contorna, em parte, o risco de descumprir o mandamento “Não usar o Santo Nome de Deus em vão”.

Estamos interligados. Na religião e na ciência. Na vida real, virtual, física e metafísica.

— Meeeeeee...

Rodrigo Espinosa Cabral


Rodrigo Espinosa Cabral

Rodrigo Espinosa Cabral, brasileiro, vegetariano, gremista. Um pedaço de poeira cósmica que, às vezes, escreve. Palavra Andante, um passeio pelo mundo das letras.

rodrigoec@gmail.com