Com a Alegria das Bicicletas
"E não se esqueça: a Terra se delicia ao sentir teus pés descalços e que os ventos anseiam por brincar com teu cabelo" -- Khalil Gibran
Desconfio que bicicletas são seres vivos. Muito evoluídos e que, provavelmente, tenham alma.
São irmãs do vento. Sedutoras, suas rodas giram no sentido horário, como o planeta Vênus, ao contrário da Terra e de outros corpos celestes que giram "para a esquerda" em sentido anti-horário. Temos muito a aprender com as magrelas.
O físico Albert Einstein tem uma frase famosa, para ele a vida seria como andar de bicicleta, para mantermos o equilíbrio precisamos estar sempre em movimento. A sabedoria popular assina embaixo, quando ouvimos por aí "quem fica parado é poste". Na bicicleta se você parar, acaba caindo. Na vida também.
Mas, se você se move, então lentamente vai ganhando o mundo e experimentando novos sons, cores e espaços.
Ah, mas a cidade tem muitas lombas, muita subida... Tem mesmo. Mas lá de cima a vista é sensacional. Vale o esforço da subida e não é proibido empurrar a baike. Além disso, depois da subida, vem a descida: mas verifique os freios ANTES. Cuidado com os buracos, os pedestres e os carros. Use capacete, esta invenção genial. E então mergulhe ladeira abaixo, sentindo o vento-insano-que-faz-chorar sacudir a alma, renovar a pele e os sonhos.
No momento, sonho com uma ciclovia que se espreguisse e se alongue paralela à estrada de ferro. Seria quase toda plana, usando a sabedoria dos antigos engenheiros, acompanhando o rio, cruzando a cidade e o meio-oeste, de Calmon a Marcelino Ramos. Do alto da serra até o Rio Uruguai, celebrando a Natureza com mirantes, áreas de camping, placas turísticas e pracinhas para as crianças. Poderia ser um caminho histórico também, visitado por escolas, contando eventos da Guerra do Contestado. Poderia ser uma rota de peregrinos, refazendo ou relembrando o caminho dos antigos Monges. Cicloturistas do mundo inteiro poderiam viajar por ela.
Acordo do sonho. Está o maior frio lá fora. Minha bicicleta está trancada num quartinho, com o pneu furado.
Mas será libertada.
Rodrigo Espinosa Cabral