O segundo piso da casa 667, na rua Conselheiro Mafra, guarda um acervo especial para os membros da família Caporali. São dezenas de peças ornamentais ricamente elaboradas com lâminas de madeira pelo Sr. Mário Caporali, falecido em novembro de 2014.
Mário nasceu em Breganze, norte da Itália, em 1926. Quando ainda menino, estudou por três anos em um colégio interno, onde aprendeu a arte da marcenaria. “Antigamente, as crianças ficavam internas e tinham profissionalização, havia mais opções de cursos, mas ele escolheu a madeira”, conta a filha, Marisa Caporali.
Em 1950, após o término da Segunda Guerra Mundial, Mário resolveu vir para o Brasil. “A Itália estava devastada e ele soube por alguns amigos que o Brasil tinha muitas oportunidades, então, resolveu se arriscar”.
Apenas com o baú de ferramentas, Mario chegou em Caçador, onde já começou a trabalhar com madeira. “Aqui ele montou sociedade com Lino Sperotto para a confecção de móveis”, conta.
Na Itália, além dos pais, irmãos e demais familiares, Mario deixou também a noiva, que veio para o Brasil oito meses depois da sua chegada. “Antes de ela vir, eles fizeram o casamento por procuração, meu pai aqui no Brasil e minha mãe na Itália. Um irmão do meu pai foi quem o representou fisicamente na cerimônia. Já casada, ela veio e ele foi buscá-la em Santos, de lá vieram para Caçador”.
Depois de dois anos, Mario saiu da extinta Ernesto Schumman para montar a própria empresa, que mais tarde, junto com outros sócios, se tornou a Induscol. A fábrica de portas e aberturas funcionava em frente onde hoje está a Uniarp.
Mas, foi apenas quando a empresa encerrou, que o italiano dedicou-se verdadeiramente ao trabalho artístico.
Aposentado e com o tempo livre, Mario chegava a passar oito horas por dia em sua oficina, onde ele ouvia suas óperas prediletas e colocava a mão na massa.
Seu trabalho iniciava com a colagem das lâminas. Cada peça é composta em média por dez lâminas super finas coladas umas nas outras.
O maior espaço de tempo se dava até a cola unir as lâminas, secar e garantir a solidez do objeto. Conforme contava, as formas dos objetos dependiam dos momentos de inspiração. “Ele vivia em busca de lâmina, procurava Brasil a fora os melhores materiais para aperfeiçoar o trabalho”, ressalta a filha.
Cada uma das cerca de 200 peças que compõem o acervo da família, tomaram em média 30 dias do Sr. Caporali. “Ele levava 20, 30, 40 dias para finalizar um objeto e sempre quando perguntávamos ele respondia que não tinha pressa”.
O zelo, capricho e perfeccionismo são incontestáveis aos olhos. A riqueza de detalhes, simetria e complexidade demonstram a singularidade de seu trabalho.
São vasos, porta objetos, peças decorativas, ornamentais. Todas as peças feitas por Caporali são especiais e primam pela perfeição e sutileza nos detalhes e ângulos.
Lâminas de imbuia e outras madeiras foram transformadas em encantadoras peças de decoração.
Conforme afirmava, ele colava as lâminas e a imaginação se encarregava do restante.
O objetivo do trabalho, o italiano dizia ser mera manifestação do apreço que sentia pela arte em madeira.
Atualmente, as cerca de 200 peças estão sob a posse dos cinco filhos, que fizeram um sorteio para a divisão. “Não pensamos em realizar uma exposição, pois as experiências que tivemos com esse tipo de evento não foram boas, porém não descartamos totalmente a possibilidade”, afirma Marisa.