Todos nós sabemos que o futebol é o esporte que mais mexe com a paixão do torcedor, chegando ao extremo de incitar a violência entre as torcidas.
Essa paixão que tantas vezes surge em casa com os pais incentivando os filhos a torcerem por determinado clube, também acontece através dos meios de comunicação, sendo o rádio certamente o mais popular.
Assim é que nos meios esportivos de Caçador surge a boa-nova dando conta do retorno ao rádio local do narrador Nilton Silva, que nos anos 80/90 incendiava a torcida no Caldeirão da Baixada - bordão que ele mesmo criou -narrando com sua vibração peculiar jogos e gols inesquecíveis, como aquela final da Segunda Divisão entre Caçadorense e Inter de Lajes, no dia 10 de dezembro de 1989.
Ganhamos por 2x1, com todo o entusiasmo do narrador e festa monumental pelas ruas da cidade.
O Nilton está de volta e temos o privilégio de conversar sobre este retorno e sua vivência no rádio - quando começou, por onde passou, o sucesso na carreira, e seu retorno ao microfone caçadorense.
P - Onde nasceu Nilton Silva?
Nasci na cidade de Monte Carlo, na época distrito de Campos Novos. Desde cedo estudava, e com 11 anos já trabalhava na empresa Imaribo ajudando na fabricação de caixinhas.
P - Quando surgiu o gosto pelo rádio e pelas narrações de futebol?
-Desde guri jogava bola e certo dia eu machuquei o joelho gravemente, tendo sido proibido pelo médico de jogar bola. Passei a treinador da Imaribo e como não gostava de interferências, não quis mais. Fui então gravar os jogos narrando de dentro do carro, e as fitas gravadas foram parar na rádio Fraiburgo. Em seguida fui convidado para narrar no microfone daquela emissora.
P - Onde e quando iniciou no rádio?
Foi num jogo no Macieirão, em Fraiburgo. Eu narrava o jogo quando de repente quebrou o pau no campo e eu continuei narrando no meio da briga, porque não tínhamos ainda uma cabine de transmissão. Me derrubaram mas não larguei o microfone, narrando a briga com a rádio no ar.
P - A narrativa vibrante vem da intimidade ou é a paixão pelo futebol?
É a paixão pelo futebol, eu me transformo, vem do coração.
P - Qual o jogo mais importante que narrou?
Foi o jogo da decisão da Copa Sulbrasileira, Grêmio x Paraná, onde fiquei com o 2º lugar no Microfone de Ouro.
P - E qual o mais emocionante?
O jogo que não foge do meu coração – entre tantos e tantos - é o jogo no Caldeirão da Baixada, Caçadorense e Inter de Lajes onde, estando dois a zero Caçadorense, eu gritava: "explode o Municipal, explode o Caldeirão da Baixada".
P - Sua narração incisiva levanta a torcida. Qual é o sentimento?
É difícil explicar. É emocionante. Hoje, tanto tempo depois, tem gente que era gurizinho e agora me reconhece na rua lembrando que pediu autógrafo meu na camiseta.
P - Algum dia se inspirou em outro locutor?
Como diria o escritor Érico Veríssimo, o único que não se inspirou em ninguém foi o Criador/Deus. Sempre apreciei os dois narradores, Fiori Giglioti e Osmar Santos.
P - Qual o seu narrador predileto?
Sempre tive predileção por Osmar Santos, para mim o melhor de todos.
P - Nunca pensou ou quis partir para um centro maior?
Tive propostas que esbarraram no meu diploma escolar. Só tenho curso médio. Mas tive proposta da rádio Bandeirantes de São Paulo, e de uma emissora de Sinop, no Mato Grosso, além de outros microfones menos conhecidos.
P - Você foi eleito o melhor narrador do Estado. Qual a sensação?
Foi emocionante. Em quatro vezes eu cheguei entre os melhores. Mas quando ganhei, fiquei muito emocionado, feliz demais, e penso que foi a confirmação do que eu esperava, de que fui um bom profissional. Gratificante.
P - Um gol inesquecível narrado?
São tantos, mas o que me marcou foi aquele do Pedrinho Paulista, no jogo dos dois a um contra o Inter de Lajes na final de l989. Aarquibancada de madeira do Municipal parecia vir abaixo, me senti no meio do povo - e as palavras narrando o segundo gol me surgiram do coração com o grito de "explode o Municipal". A galera veio comigo gritando o nome do Pedrinho.
P - Como se sente na volta para Caçador?
Muito feliz. Eu sempre disse que Caçador era minha cidade natal do coração. Pretendo encerrar minha carreira aqui, narrando grandes jogos e aqui ficar pelo resto da minha vida.
P - Recado para os seus ouvintes.
Estou aqui e espero que continuem gostando de mim. Não desprezem os que estiveram aqui até agora, mas continuem me ouvindo, que continuarei muito feliz.