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Mundo Novo


Mudanças climáticas e a política

O movimento ambientalista ganhou a batalha ideológica com a ampliação do conhecimento sobre a mudança climática. Seus ativistas já não são os “louquinhos” ou “incomodados” do passado: o isolamento agora cabe aos céticos ou aos que negam o aquecimento global pela ação humana. Os eventos extremos, cada vez mais frequentes, e o aumento do nível das águas dos oceanos contribuíram para considerar seriamente as advertências, que no passado recente eram respondidas de modo irônico ou simplesmente subestimadas.

A sustentabilidade se incorporou inclusive ao vocabulário empresarial, as campanhas, bem como os consumidores, induzem certos setores produtivos a assinarem acordos de boa conduta ambiental e social, como compromissos para rejeitar madeira ou carne produzidas à custa da exploração ambiental desordenada. Entretanto, essa legitimidade científica das propostas ambientalistas não se transforma em força política na hora das grandes decisões, por exemplo, nas conferências que tentam estabelecer um tratado mundial para conter o aquecimento da Terra!

O consenso, já praticamente alcançado, de que nosso planeta caminha para um catastrófico destino se não forem tomadas medidas urgentes, não conta com o correspondente poder político para impulsionar ações consideradas indispensáveis para reduzir as emissões dos gases que provocam o chamado efeito estufa. O empurrão obtido na década de 1990 com a Convenção Marco das Nações Unidas sobre a Mudança Climática, aprovada na Cúpula da Rio 92, e mesmo o Protocolo de Kyoto, assinado cinco anos depois, parecem perdidos.

É no jogo parlamentar que costuma se manifestar a debilidade do ambientalismo, especialmente diante dos interesses econômicos que travam a negociação de tratados internacionais à altura do desafio climático ou que podem reduzir seus efeitos, como o que aconteceu com o Protocolo de Kyoto.

Os partidos verdes são extremamente minoritários e pouco influem nas políticas nacionais, salvo algumas exceções, como a da Alemanha. Além disso, muitos abandonaram seus princípios originais ao se envolverem no jogo eleitoral, como no Brasil. Outros instrumentos de luta, como mobilizações, protestos, campanhas de comunicação e outras variadas formas de pressão social tampouco parecem suficientes para promover as necessárias mudanças.

Uma revisão do Código Florestal brasileiro nega os esforços para reduzir os gases-estufa no país, reconhecido como campeão da mitigação climática pelo secretário-executivo do Programa das Nações Unidas para o Mudança Climática, Achim Steiner. A votação do projeto, que flexibiliza exigências ambientais e perdoa desmatamentos ilegais de latifundiários, demonstrou a impotência dos ambientalistas, bem como dos cientistas que pediam para serem ouvidos no debate!

A 17ª Conferência das Partes da Convenção Marco das Nações Unidas sobre Mudança Climática (COP 17), realizada entre 28 de novembro e 11 de dezembro de 2011, na cidade sul-africana de Durban, foi “um retrocesso”, ao aprovar apenas “uma promessa” de ações a partir de 2020, escreveu Marina Silva em um artigo publicado no dia 16 de dezembro no jornal Folha de S.Paulo. Faltam estadistas, “líderes que se apresentem nas crises” para promover as mudanças necessárias, acrescentou a ex-ministra do Meio Ambiente do governo de Luiz Inácio Lula da Silva.

No entanto, é mais do que incerto o surgimento de suficientes dirigentes capazes de enfrentar interesses políticos e econômicos imediatos para sustentar a sobrevivência da humanidade. Será, provavelmente, necessário descobrir novos mecanismos para aprovar e assegurar políticas de muito longo prazo como exigem os problemas ambientais.

Marina Silva pretendia, ao assumir o Ministério em 2003, que as questões da área fossem “transversais”, consideradas nas ações de todos os ministérios do governo Lula. Entretanto, renunciou em maio de 2008, deslocada pelos poderes muito superiores atribuídos ao desenvolvimento econômico. Bem, este é nosso país! Esta são nossas hipocrisias!

Um grande abraço a todos e fiquem com Deus...

Eng. Júlio César Moschetta da Silva


Júlio César Moschetta da Silva

Graduado em Engenharia Ambiental, especialista em Educação Ambiental e Gestão de Recursos Hídricos. Atuante em Conselhos Municipais em Caçador, Comitê da Bacia do Rio do Peixe e OnG Gato do Mato. Na coluna Mundo Novo Júlio escreve sobre assuntos ambientais, relacionando o tema com o desenvolvimento humano. Também aborda assuntos de caráter filosófico, abrindo discussão sobre a consciência humana.

julionatural@yahoo.com.br