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Crônicas


O ratão que virou leão

Era uma vez, um queijo... Um enorme queijo que era compartilhado com quase oitenta mil ratinhos, destes, quase quarenta mil tinham o direito de escolher seus líderes, pois eram mais maduros que os demais, carregados de experiências e sabedoria... Afinal o queijo era muito importante para eles, significava a própria vida, e de fato o era, pois era aquele queijo que os sustentava, portando todos amavam e cuidavam a seu modo do queijo gigante.

A cada quatro anos os ratinhos tinham a oportunidade de escolher, através do voto, seus líderes... Então se organizavam os candidatos, que pediam apoio a outros ratos para unir forças a fim de derrubar os adversários.

A última disputa foi entre três ratões: O ratão bicudo que já tinha o poder do queijo há quatro anos, o ratão do pé “vermeio”, e o ratão da estrelinha... Todos os três organizaram-se de acordo com seus princípios buscando forças para poder administrar o queijo gigante e também ter a oportunidade de morder uma fatia um pouco maior...

O grupo do ratão bicudo reuniu outros seis grupos de ratos que trabalharam para ele em três frentes de batalha, deveriam lambê-lo e limpá-lo para que parecesse límpido aos olhos dos demais ratinhos... A família do ratão do pé “vermeio” conseguiu o apoio de mais três grupos de ratos, porém, lutaram todos unidos e ajudaram a construir as metas para melhor repartir o queijo... A equipe do ratão estrelinha não conseguiu apoio e resolveu lutar sozinha mesmo, apesar de alguns ratinhos lutarem por sua conta e apoiarem os outros dois ratões às escondidas...

Foi dada a largada e todos os ratos começaram a batalha, tentando convencer a rataiada de que tinham as melhores propostas para a partilha do queijo gigante... O ratão bicudo se gabava das melhorias momentâneas feitas por ele no queijo, como medidas emergenciais para conseguir mais votos... O ratão do pé “vermeio” mostrava tudo o que tinha feito pela rataiada, apesar de não ter nascido naquele porão... O ratão da estrelinha ficava no meio do fogo cruzado, por vezes atacava, timidamente, um e outro.

Nos últimos dias antes da votação, os três ratões organizaram as melhores estratégias para ganhar o pleito, porém o ratão bicudo teve a melhor (ou pior) idéia: Adiantou-se e repartiu algumas migalhas do queijo com os ratinhos mais magros conquistando a confiança deles... Resultado: foi escolhido pela maioria da rataiada para administrar o queijo por mais quatro anos. Então os seis ratões que apoiaram o ratão bicudo transformaram-no num leão invencível, o que os reduziu à calda, porém isso não tinha a menor importância, eles estavam todos no poder, poderiam fazer o que quisessem com o queijo, mesmo sendo calda de leão. Porém, leões não comem queijo, nem necessitam dele, só precisam disponibilizar algumas migalhas aos ratinhos para engordá-los e depois devorá-los...

Mas agora, o ratão bicudo que virou leão tem um grande problema: Como repartir a maior fatia do queijo com sete ratões famintos que lutaram em três frentes de batalha e agora fazem parte de sua calda?
Como diz meu amigo Zé: É melhor ser cabeça de rato do que calda de leão.

Márcio Roberto Goes
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Márcio Roberto Goes

Professor de Língua Portuguesa, língua Espanhola e suas respectivas literaturas, efetivo na rede estadual de ensino de Santa Catarina, graduado em Letras pela Unc, antigo campus de Caçador e especialista em análise e produção textual pela FAVEST. Escritor, palestrante, diretor artístico e locutor da Web rádio Ativa Caçador. Membro da Academia Caçadorense de Letras e Artes.

marciogrm@yahoo.com.br