A expectativa de que o novo governo Trump intensifique a
estratégia de competição tarifária, como forma de enfraquecer o regime
econômico chinês, pode abrir oportunidades às exportações brasileiras e
catarinenses para os Estados Unidos, principal destino das exportações do
estado, na avaliação do presidente em exercício da Federação das Indústrias de
Santa Catarina (Fiesc), Gilberto Seleme. “Além disso, uma resposta chinesa,
fechando o mercado para produtos norte-americanos, abriria espaço às vendas de
commodities e de produtos da nossa agroindústria à China, já que os Estados
Unidos são um grande exportador destes itens”, afirma.
“A volta à Casa Branca de um empresário e, por consequência, de um presidente
que acredita na livre iniciativa, está alinhada com a visão dos industriais de
Santa Catarina”, afirma Seleme.
Outra tendência é que empresas americanas que produzem na China busquem novos
locais para suas fábricas e que o mesmo possa ocorrer com plantas fabris
chinesas nos Estados Unidos. “Abre-se, assim, uma oportunidade para buscar
atrair esses projetos”, acredita o presidente em exercício da Fiesc.
No caso dos produtos de madeira, por exemplo, em 2021, o governo Trump elevou
as tarifas de importação sobre produtos chineses em cerca de 25%, permitindo
que países como Brasil e Vietnã superassem a China no ranking de exportadores
para os EUA. Em 2024, o governo Biden, seguindo uma estratégia de competição
comercial, aumentou as tarifas para máquinas de processamento de madeira com a
mesma intensidade, abrindo oportunidades, inclusive para produtores
catarinenses de equipamentos. Esse tipo de iniciativa tende a ganhar mais
espaço na nova gestão de Trump.
Outro exemplo é o segmento de motores elétricos. No aumento tarifário do
primeiro governo Trump, as tarifas sobre motores, geradores, transformadores
elétricos e componentes chineses subiram 25%. Com isso, a dependência da China
nas importações para os EUA caiu, beneficiando países como México, Alemanha e
Brasil. Santa Catarina, em particular, foi beneficiada por sua já reconhecida
competência exportadora nesses produtos. Como retaliação, a China também
aumentou as tarifas a importações dos EUA.
Essa intensificação da guerra comercial pode ser positiva para a agroindústria
catarinense, à medida que as tarifas de importação chinesas se elevem, em
especial para carnes suínas. Em 2017 os Estados Unidos eram o 2º maior
exportador de carne suína para a China. Atualmente, o Brasil ocupa essa
posição, atrás apenas da União Europeia. Como essas tarifas foram aliviadas no
acordo tarifário de 2020, é possível que uma nova rodada de elevação das
tarifas aumente a propensão a investir na agroindústria em Santa Catarina.
Exportações de SC para os EUA
Em 2024, os Estados Unidos ganharam espaço em relação à China e assumiram a
liderança isolada como destino das exportações catarinenses. De janeiro a
setembro deste ano, os 20 principais produtos de Santa Catarina exportados para
os EUA somaram US$ 1,314 bilhão. O ranking é liderado por obras de carpintaria
para construções, com US$ 207 mihões em vendas, seguida por motores elétricos,
com US$ 155 milhões, e partes de motor (US$ 144 milhões). Confira a lista
completa abaixo.
Cenário provável para exportações:
- Indústrias de SC que concorrem com indústrias chinesas podem ganhar mercado,
já que é esperado um aumento maior nas tarifas para os produtos da China;
- Indústrias de SC que competem com players mundiais no mercado dos EUA devem
sentir pouco impacto em um primeiro momento, pois todos terão seus preços
elevados;
- Indústrias de SC que competem com produtores locais nos EUA devem ter perda
de competitividade devido à elevação de seus preços locais.
Dólar e inflação: no campo financeiro, é esperado que a maior restrição à
migração leve a um aumento nas pressões salariais, o que, em conjunto com o
aumento tarifário, pode gerar um repique na inflação dos EUA. Como
consequência, a taxa de juros deve limitar a redução nas taxas de juros locais.
Este cenário poderia tornar mais difícil uma queda acentuada na taxa Selic no
Brasil.