A princípio parecia um urubu, pelo menos nas palavras da
técnica de enfermagem Saionara Alano de Souza. Ela e o marido Vitor Thomé
Cechetto, professor de educação física, observavam aves em uma área rural no
município de Caçador/SC, onde existem campos de altitude, quando avistaram um
gavião-pega-macaco com uma presa.
Até o momento, o que se sabe é que a presa do gavião é um
roedor. Segundo a bióloga Ana Carolina Loss, especialista em pequenos
mamíferos, a principal hipótese de um grupo consultado por ela é que seja um
prea do gênero Cavia ou Galea.
“Eu e minha esposa fomos dar uma averiguada e a gente já
estava com as câmeras desligadas, todas dentro do carro. Ela avistou e disse
‘olha um urubu’. E eu disse ‘não, um urubu com um leque atrás, não é’. E já
pensei, nossa é um gavião-pega-macaco”, relata o observador.
“Então já desci, peguei a câmera e comecei a ver ele vindo
bem na minha direção. E eu vi que ele tinha alguma coisa nas garras, só que
passou batido. Só fui olhar em casa o que ele poderia ter nas garras”,
acrescenta ele.
Feito no último domingo, 17, o registro é o segundo da
espécie feito no município. Em pesquisas feitas pelo ornitólogo Fernando Igor
de Godoy, a ave consta como ameaçada em algumas listas estaduais, mas não
aparece na lista nacional ou global de risco de extinção.
Como ave florestal, necessita de áreas de grande extensão
para sobreviver, ocorrendo nas florestas de diversos biomas, como a Mata
Atlântica e a Amazônia. No entanto, seu habitat vem sendo continuamente
devastado pela ação humana.
“Quando eu vi que era um gavião-pega-macaco veio aquela
sensação de ‘meu Deus, é sério isso?’ É impressionante, assim, porque eu nunca
pensei que ele viria na minha direção com uma presa. Eu pensei que ele ia voar
mais para os lados, né?”, relembra Vitor.
“Você pode ver que ele não tava numa velocidade muito alta
porque ele tá subindo, ele tava muito perto. Talvez eu nunca mais veja isso”,
afirma o professor de educação física.
A espécie
Um dos maiores rapinantes da América do Sul, o
gavião-pega-macaco (Spizaetus tyrannus) pertence a um grupo conhecido como
águias-gaviões e desempenha um importante papel na cadeia alimentar, como
espécie topo.
Ocorre do sul do México à América de Sul, estando presente
em todo o Brasil, exceto nas regiões áridas do Nordeste e nos Pampas Gaúchos.
O nome popular vem do hábito de se alimentar de primatas,
embora também prede aves, répteis e outros mamíferos. A espécie faz seu ninho
no alto das árvores com gravetos e a fêmea bota em média 2 ovos, que são
chocados por cerca de 40 dias.
É frequentemente visto planando no meio da manhã, sendo
raramente visto pousado. Emite assobios altos enquanto voa, que podem ser
ouvidos a longa distância.
O adulto é preto com xadrez branco e preto sob as asas e
possui barras brancas na cauda preta. Os imaturos são amarronzados com a
garganta e coroa brancas.
‘Virada de chave’
Vitor Cechetto conta que descobri u na observação de aves
uma maneira de “virar a chave”. Isso significa conseguir se desligar da rotina
de trabalho e dos afazeres domésticos, dando a devida importância ao lazer e ao
contato com a natureza.
“Comecei a passarinhar na pandemia, com o celular no quintal
de casa. Eu começava a ver os bichinhos ali, os cantos, e eu queria me
aprofundar mais. A gente não tem a noção da quantidade de animais, de espécies
que existem”, diz.
Diferentemente do avô que pegava passarinhos com alçapão
para observá-los e admirá-los, Vitor faz isso por meio da fotografia. Uma forma
que permite capturar as aves, mas sem deixa-las presas. “É a nossa maneira de
estar admirando e amando os bichinhos, né?”, finaliza.
No mesmo dia em que fotografou o gavião-pega-macaco, o
observador flagrou espécies como codorna-amarela, joão-bobo, sabiá-do-banhado,
pintassilgo, canário, entre outras. Veja as fotos abaixo.
Fonte: g1