A nora da mulher que preparou o bolo que matou três
pessoas em Torres, no litoral do Rio Grande do Sul, em dezembro, foi presa
neste domingo, 5, por suspeita de envenenar o bolo. Ela foi identificada pelo
Tribunal de Justiça (TJ) do RS como Deise Moura dos Anjos.
Deise Moura dos Anjos
Segundo a polícia, a mulher teve prisão temporária decretada
por suspeita de triplo homicídio duplamente qualificado por motivo fútil e
com emprego de veneno e três tentativas de homicídio duplamente
qualificado. Ela foi conduzida para a Delegacia de Polícia de Torres e
está detida no Presídio Estadual Feminino de Torres. Segundo o TJ, Deise deve
passar por audiência de custódia na tarde desta segunda-feira, 6.
Em nota, a defesa de Deise diz que "não teve acesso
integral à investigação em andamento, razão pela qual se manifestará em momento
oportuno".
Três pessoas morreram após consumir o bolo: as irmãs Neuza
Denize Silva dos Anjos e Maida Berenice Flores da Silva, e a filha de
Neuza, Tatiana Denize Silva dos Anjos.
Entenda quem é quem no caso do bolo em Torres
A polícia investiga a presença de arsênio no
sangue das vítimas, constatada após exames do hospital onde os sobreviventes
estão internados. A origem do contaminante ainda é investigada.
De acordo com o boletim médico, a mulher que preparou o
bolo, Zeli dos Anjos, de 60 anos, está hospitalizada em estado
estável. A criança de 10 anos que também comeu o bolo recebeu alta na
sexta-feira.
Polícia investiga morte de 3 mulheres após comerem bolo de
Natal
Gosto estranho
As pessoas que consumiram o bolo notaram um gosto
estranho ao ingerir o doce, segundo o delegado do caso, Marcos Vinícius
Veloso. O alimento, com sabor apimentado e desagradável, foi
percebido logo nos primeiros pedaços. Zeli chegou a interromper o consumo ao
perceber as reclamações.
"Tão logo o menino de 10 anos comeu e também reclamou
do sabor, ela meio que colocou a mão assim em cima do bolo, [e falou] 'e agora
ninguém mais come'. E as pessoas começaram a passar mal naquele momento",
diz o delegado.
O marido de Neuza, que não consumiu o bolo, não apresentou
sintomas. E o marido de Maida comeu o bolo, foi hospitalizado, mas já teve
alta. Os nomes deles não foram oficialmente divulgados.
A Polícia já ouviu cerca de 15 pessoas no inquérito. Zeli
dos Anjos deve ser ouvida pela polícia quando estiver em melhores condições.
No dia 27 de dezembro, policiais foram às casas de
familiares em Canoas, Arroio do Sal e Torres para coletar mais
elementos para a investigação.
Conforme a polícia, a família tinha boa relação e até o
momento não é cogitado que haveria disputa por eventual herança.
Os laudos periciais no bolo, que têm previsão de ficarem
prontos na próxima semana, poderão apontar se houve contaminação cruzada de
alimentos e o que havia no bolo.
Análises apontam arsênio
Exames identificam arsênio no sangue de pessoas que comeram
bolo
Os resultados das primeiras análises laboratoriais,
coletadas pelo Hospital Nossa Senhora dos Navegantes, indicaram presença
de arsênio no sangue de uma das vítimas e dos dois
sobreviventes que comeram o bolo. A substância é extremamente tóxica e
pode levar à morte.
Foram analisados o sangue da mulher que preparou o bolo,
do sobrinho-neto dela – uma criança de 10 anos – e de Neuza
Denize Silva dos Anjos, que morreu.
Relembre o caso
De acordo com a Polícia Civil, sete pessoas da mesma família
estavam reunidas em uma casa, durante um café da tarde, quando começaram a
passar mal. Apenas uma delas não teria comido o bolo. Zeli, que preparou o
alimento, em Arroio do Sal e levou para Torres, também foi hospitalizada.
Três mulheres morreram com intervalo de algumas horas.
Tatiana Denize Silva dos Anjos e Maida Berenice Flores da Silva tiveram parada
cardiorrespiratória, segundo o hospital. Neuza Denize Silva dos Anjos teve como
causa da morte divulgada "choque pós-intoxicação alimentar".
Segundo o delegado Marcos Vinícius Veloso, que conduz as
investigações, Zeli foi a única pessoa da casa a comer duas fatias. A
maior concentração do veneno foi encontrada no sangue dela.
A investigação encaminhou os corpos das três vítimas para
necropsia no Instituto-Geral de Perícias (IGP), órgão responsável por atestar a
causa da morte. Resultados devem ser divulgados nesta semana.
O que é arsênio
Conforme André Valle de Bairros, professor de Toxicologia da
Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), o arsênio é o elemento químico,
enquanto arsênico é denominado para o composto trióxido de arsênio.
"O arsênico trata-se da forma mais tóxica. A partir de
100 mg é possível a morte de um indivíduo adulto. Geralmente, o arsênico está
na forma de pó e não tem cheiro ou gosto. Apesar de ter sido usado como
raticida, esta droga pode ser empregada para fins de tratamento oncológico em
pacientes com leucemia promielocítica aguda e é comercializada como
Trisenox", explica o especialista.
Bairros assinala que arsênico é proibido de ser
comercializado no Brasil como raticida e o uso como agente quimioterápico
é restrito.
"O arsênio é um elemento de alta toxicidade conhecida
pela humanidade e sempre houve um certo temor. Há locais no globo terrestre
ricos em arsênio, e isso contamina fontes de água. Mas é algo que precisa ser
muito investigado. Há literatura científica, e de fato, há essa contaminação em
leite, carne e frutas, porém, o fato de estar expostos a concentrações maiores
de arsênio não significa necessariamente uma intoxicação", acrescenta.
Com informações e fotos: G1