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Crônicas

A greve e a Semana Santa


Semana Santa, ao contrário do que muita gente pensa, deveria inspirar as lutas populares, em nome daquele filho de carpinteiro, revolucionário e visionário que lutava contra as autoridades em busca de um mundo  melhor...

Na terça-feira, a caminhada triunfal pelas ruas do centro da cidade... Não tinha um jumentinho com o messias em cima, nem aclamação com ramos de oliveira, mas tinha muitos trabalhadores em educação da rede estadual buscando melhores condições de trabalho, tentando conquistar novos direitos, ou pelo menos, garantir aqueles que já existem... A cidade parou para ver a luta que deveria ser de todos os munícipes, afinal, a educação gera todas as outras profissões e ajuda na formação de todos os cidadãos...

Mas os professores não pararam por aí. Alguns representantes foram às cidades vizinhas falar sobre suas ideias e suas lutas, aumentaram a equipe... Muitos alunos também aderiram a luta, em especial, estudantes da Escola Wanda Krieger Gomes, que há meses passam por calamidades sucessivas sem uma resposta definitiva dos órgãos responsáveis. Prometem isso, prometem aquilo, mas em nenhum momento o caso foi tratado com a urgência que merece. Pelo contrário, tentam mascarar a realidade, dizendo que tem salas de aula o suficiente no segundo piso com energia elétrica para abrigar o noturno... O fato do terceiro piso não ser usado por falta de energia e um telhado que não abriga ninguém da chuva na área de convivência só prova o desperdício e o descaso com um investimento que sai de nosso bolso a cada centavo de impostos que pagamos e são revertidos para o estado administrar...

O povo se divide entre aqueles que são contra e os a favor da greve do magistério público estadual. O governo que tem a máquina administrativa nas mãos e, por isso, consegue maior espaço na mídia, deixa transparecer a sua versão dos fatos. Não quer admitir que está tratando com descaso aqueles que fazem o que podem para ajudar nossos filhos a descobrir o gosto pelo conhecimento. Tentam convencer os desavisados a libertar Barrabás e deixá-lo agir em favor dos tiranos que, como sempre, lavam as mãos...

Os professores, por sua vez, levam chicotadas morais subindo o calvário da luta da categoria. Pelo caminho encontram o Simão Sirineu, membro da comunidade, aluno, pai, ou mãe que os ajuda a carregar a cruz do descaso... Algumas pessoas se comovem, se emocionam, mas não fazem nada além de chorar. Nossa resposta é uma paráfrase do próprio Jesus Cristo: “Não chorem por nós, chorem pelos seus filhos”, se esta realidade não mudar, são eles que vão sofrer cada vez mais com o caos pelo qual as autoridades deixaram a educação pública chegar...

Querem nos matar pelo cansaço, querem calar nossa voz, pregar nossos pulsos e pés, nos imobilizar... Porém, mesmo amarrados, continuaremos a luta, mesmo que tenham a ilusão da nossa morte, removeremos a pedra da desatenção com a força da mobilização e, quando pensarem que nos calaram para sempre, ressurgiremos ainda com mais disposição para garantir nosso direitos e o direito da sociedade ter uma educação verdadeiramente de qualidade...

 “Se calarem a voz dos profetas, as pedras falarão”... Se tentarem nos derrubar, ganharemos impulso e força para lutar ainda mais...

Márcio Roberto Goes


Márcio Roberto Goes

Professor de Língua Portuguesa, língua Espanhola e suas respectivas literaturas, efetivo na rede estadual de ensino de Santa Catarina, graduado em Letras pela Unc, antigo campus de Caçador e especialista em análise e produção textual pela FAVEST. Escritor, palestrante, diretor artístico e locutor da Web rádio Ativa Caçador. Membro da Academia Caçadorense de Letras e Artes.

marciogrm@yahoo.com.br