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Crônicas

Não precisa


Não precisa ser do MST para apoiar a luta daqueles que não têm um pedaço de chão para plantar. Sabe-se que existem muitas pessoas infiltradas no movimento que não defendem os mesmos interesses, mas não é justo sacrificar toda uma coletividade por causa de uma meia dúzia…

Não precisa ser beneficiário do Bolsa Família para defender as lutas do povo empobrecido. Sabe-se que existem muitas pessoas que usufruem sem, na verdade, necessitar, mas não é justo chamar todos os beneficiários dos programas sociais de “vagabundos” por conta de alguns que burlam o sistema. Para isso existem as denúncias que podem ser feitas e investigadas…

Não precisa ser beneficiário do PROUNI para defender os universitários e lutar para que todos, do operário ao empresário, tenham uma educação com a mesma qualidade…

Não precisa receber benefício da lei Rouanet para prestigiar e defender a cultura popular. Sabe-se que muitos artistas consagrados já não precisam deste benefício, mas a imensa maioria trabalha, e muito para viver da arte e, mesmo assim, não são valorizados como deveriam, recebem um cachê vergonhoso dos estabelecimentos onde se apresentam, apesar dos proprietários lucrarem muito com isso… Além do mais, a maioria dos fãs investe mais de cem reais para ver artistas de renome nacional, mas se recusa a pagar uma dezena de reais para ver o artista local tocando num barzinho, sobrevivendo, aos trancos e barrancos, quase sempre tendo que ter outro emprego para garantir o sustento…

Não precisa ser mulher para ajudar nas lutas feministas, na conquista de espaço, nas batalhas por seus direitos e por seus sonhos… Não precisa ser estuprada para se indignar e se envergonhar com a situação, lutando por justiça…

Não precisa estar o tempo todo na rua, manifestando, batendo panela (Aliás, cadê as panelas?) para lutar por um país melhor… A luta contra a corrupção começa quando não me rendo a ela no cotidiano, quando não busco levar vantagem em tudo, quando peço a nota fiscal de minhas compras, quando não furo as filas da vida, quando respeito o direito de meus semelhantes...

Enfim, não preciso ser nem assumir todas estas lutas, mas preciso de um ideal, algo que mova meus atos e minhas ideias. Preciso, enfim ser autêntico sem deixar de ser alguém na multidão lutando pelas causas populares…

Levando-se em conta esta lógica, é possível compreender o fato de alguns empobrecidos pelo sistema defenderem seus opressores… Afinal, não precisa ter muito dinheiro para defender os interesses da classe alta e, em muitos casos, opressora…

Só existem empobrecidos porque uma minoria muito organizada e convincente fica com a maior fatia do bolo deixando o restante para a maioria oprimida dividir e se sentir agradecida aos opressores que lhe fornecem muito menos do que as mãos do trabalhador produzem…

Márcio Roberto Goes
www.marciogoes.com.br
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Márcio Roberto Goes

Professor de Língua Portuguesa, língua Espanhola e suas respectivas literaturas, efetivo na rede estadual de ensino de Santa Catarina, graduado em Letras pela Unc, antigo campus de Caçador e especialista em análise e produção textual pela FAVEST. Escritor, palestrante, diretor artístico e locutor da Web rádio Ativa Caçador. Membro da Academia Caçadorense de Letras e Artes.

marciogrm@yahoo.com.br