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Crônicas

O ciclo da vida


Depois que se passa da quarta década de vida, existem dois caminhos: ou nos tornamos frios por já conhecer grande parte das reações, ou potencializamos as emoções pelo mesmo motivo. Comemorar o aniversário é sempre bom, todo mundo gosta, mesmo sabendo que está ficando mais velho…

Penso que, a cada ano, a cada dia, a cada segundo devemos agradecer e celebrar o dom da vida. O tempo pode ser cruel em alguns aspectos, porém envelhecer é um privilégio carregado de experiências, emoções, esperanças e temores que, se reconhecidos como aspectos evolutivos nos fazem perceber o tempo como algo magnífico, negado a muitas pessoas…

Ao completar meus 43 anos de vida terrena, jamais havia imaginado que o faria num dia tão triste para a nação, para Santa Catarina e para o Velho Oeste que, na ocasião recebia, debaixo de chuva, seus guerreiros da Chape, mortos no acidente aéreo.

Ao acomodar-me numa padaria para tomar um café, chamou-me a atenção as imagens transmitidas ao vivo pela TV. Caixões e mais caixões sendo levados solene e vagarosamente pelo aeroporto após deixarem o avião, mesmo meio de transporte que os tirou a vida. A comoção era total dos dois lados da tela. Este que vos escreve, a cada gole de café sentia escorrer uma lágrima destes olhos ceratocônicos e astigmáticos protegidos por um par de óculos que me ajudam a ver com mais nitidez aquilo que a maioria das pessoas consegue ver a olho nu…

Se no dia do meu aniversário, pudesse pedir um presente a Deus, pediria que o tempo voltasse e tudo fosse diferente: Talvez estivéssemos recebendo uma equipe campeã sul-americana cheia de vida e festiva…

Mas quem somos nós para contestar os desígnios de Deus?… Só a fé é capaz de nos fazer acreditar numa nova chance… Cada jogador, cada jornalista, cada ser humano que estava naquele avião deixou, de alguma forma, seu legado, inclusive os seis sobreviventes. Todos entraram para a história e, para nós, brasileiros, especialmente para este aniversariante, o 3 de dezembro teve um sabor agridoce, cheio de antíteses: alegria, comoção, solidariedade, tristeza, esperança, amor, perseverança…

Mas a vida aqui na Terra continua, assim como a Chapecoense continuará fazendo história, em memória de seus guerreiros que, passo a passo, venceram cada barreira com garra e merecimento de cada degrau. São campeões por excelência, coroados e homenageados neste 3 de dezembro…

Tudo tem um ciclo, o começo de um é o início de outro. Enquanto isso, vamos fazendo nossa parte, na certeza que, um dia, também chega nossa vez…

Como dizia minha querida e guerreira mãezinha: A única coisa que se tem certeza na vida é a morte…

Força Chape…

Márcio Roberto Goes www.marciogoes.com.br www.radioativacacador.com.br


Márcio Roberto Goes

Professor de Língua Portuguesa, língua Espanhola e suas respectivas literaturas, efetivo na rede estadual de ensino de Santa Catarina, graduado em Letras pela Unc, antigo campus de Caçador e especialista em análise e produção textual pela FAVEST. Escritor, palestrante, diretor artístico e locutor da Web rádio Ativa Caçador. Membro da Academia Caçadorense de Letras e Artes.

marciogrm@yahoo.com.br