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Crônicas

A casa das sete cadelas


Sempre gostei de cachorros. Nunca imaginei minha vida sem eles… Desde que me conheço por gente, sempre tive um peludo de quatro patas, focinho gelado e cauda abanando ao meu redor. Muitos vira-latas fiéis escudeiros e alguns de raça definida, igualmente fiéis… Nunca paguei por eles… A vida não tem preço e nem pode ser resumida por valores materiais maiores, ou menores de acordo com a raça…

Agora tenho duas adoráveis companhias em minha residência oficial: Um labrador e uma vira-latas que juntos, após momentos românticos, livres pelo pátio, sem se importar com a plateia, já tiveram quase trinta filhotes em quatro gestações…

Nesta última, minha cadela de médio porte, deu à luz onze filhotes. Dois morreram logo depois do parto e sobraram sete fêmeas e dois machos… Infelizmente, uma menina e um menino também não resistiram… É sempre dolorido ter que enterrar um amigo, mesmo que seja canino, mesmo que tenha vivido apenas alguns dias… O que me alegra é que os demais estão fora de perigo…

Então, na minha residência oficial de verão, outono, inverno e primavera, permanecem dois cachorros: Um labrador adulto, quase idoso e um adorável filhotinho, único macho sobrevivente da ninhada… E sete cadelas, contando com a mãe que, aos poucos vai ficando menos agressiva e mais dócil, deixando-me aproximar para verificar seus bebês de vez em quando…

Para muitos, pode parecer algo corriqueiro, mas para este que vos escreve é uma experiência enriquecedora poder ajudar a cuidar de vidas tão frágeis, indefesas e dependentes… Oito vidinhas que ainda não abriram os olhos, nem os ouvidos para este mundo cruel e desumano. Tão novinhos, tão irracionais a ponto de nos ensinar a amar as maravilhas que Deus coloca em nossas mãos…

Parece irônico, quase uma antítese, saber que alguns animais que cabem na palma da mão nos tornam mais humanos… Coisa que muitos humanos não conseguem fazer com seus semelhantes…

Minhas sete cadelas e dois cachorros me ensinam, a cada dia, valorizar o carinho, a atenção, a generosidade que têm entre si e comigo. Nunca ouvi dizer que um animal irracional, quadrúpede e doméstico tivesse praticado bullying com outro semelhante seu, ou com os seres humanos ao seu redor…

Nós, autodenominados seres humanos, racionais, inteligentes, sábios, além de não aprendermos com os animais, ainda, muitas vezes os maltratamos, castigamos e cruelmente os amarramos pelo pescoço, deixando, em muitos casos, a vida toda em uma corrente, cumprindo uma pena que não merecem… Mesmo assim, um cão, quando vê o ser humano que o aprisiona e o castiga, sempre o recebe com alegria e uma cauda abanando…

Um dos cachorros e seis das sete cadelas que aqui estão, ao desmamarem, serão doados. Minha preocupação se dá pelo fato de saber que serão adotados por seres humanos. Espero que os escolhidos não tenham os pensamentos cruéis da maioria, pois essas oito vidas, não merecem ser castigadas por conta do egoísmo humano…

Enquanto não chega o momento da adoção, cá estou, em meio a dois cachorros e sete cadelas que me ensinam a ser menos cruel, mais maleável, amável e carinhoso com as diversas formas de vida que me circundam, inclusive a perereca que canta na pequena lagoa da vertente… Mas isso é assunto para outra crônica…

 

Márcio Roberto Goes
www.marciogoes.com.br


Márcio Roberto Goes

Professor de Língua Portuguesa, língua Espanhola e suas respectivas literaturas, efetivo na rede estadual de ensino de Santa Catarina, graduado em Letras pela Unc, antigo campus de Caçador e especialista em análise e produção textual pela FAVEST. Escritor, palestrante, diretor artístico e locutor da Web rádio Ativa Caçador. Membro da Academia Caçadorense de Letras e Artes.

marciogrm@yahoo.com.br